PINKDRAFT: “2010” (Creative Sources)

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Não fosse o silêncio uma ilusão racional e qualquer construção sonora (por definição: música) a que se procedesse constituiria uma violência. Parece ser esse o princípio seguido pela abordagem do quarteto Pinkdraft neste seu disco homónimo. Os procedimentos timbrais, texturais e ora arrítmicos, ora polirrítmicos, de Ricardo Jacinto, Nuno Torres, Travassos e Nuno Morão parecem não querer ferir a superfície desse idealizado branco da audição, no seu minimalismo aproximando-se da escola a que se deu o nome de reducionista.

Só não chegam a caber nesse rótulo porque, para todos os efeitos, se os sons ouvidos são pequenos, surgem numa quantidade que escandalizaria um Radu Malfatti ou um Taku Sugimoto, talvez os mais extremos representantes do “near silence”. Para uma música “quieta”, a deste disco atinge atribulações e intensidades assinaláveis, pelo que, sem remédio, a pele do silêncio é mesmo rasgada. Como só podia acontecer, de resto…

Talvez seja assim porque o dito silêncio é apenas uma das duas coordenadas principais do projecto Pinkdraft. A outra é, justamente, o som. Não surpreende: o mentor da formação, Ricardo Jacinto, é, paralelamente à sua actividade como violoncelista improvisador, um renomado artista na área do instalacionismo sonoro. Ou seja, alguém focado nas condições físicas (que não metafísicas) do som.

Temos, pois, com este álbum um bom exemplo das novas práticas da improvisação que têm lugar em Portugal. Chamar-lhes “livres”, não obstante a sua intencionalidade de não se cingir a um figurino demasiado definido, seria perigoso. São evidentes as influências das formas eruditas contemporâneas, de alguma electrónica/electroacústica de índole experimental (a tendência “lowercase”, para ser mais exacto) e também do jazz criativo de depois do free. As medidas dessas influências vão variando consoante as circunstâncias e os momentos, mas o que prevalece é uma perspectiva descobridora, que não patrimonial, da música.

Rui Eduardo PaEs / jazz.pt

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Recorded March 2012 @ CARPE DIEM Arte e Pesquisa

For “AMPAGDP”

    • Directed by: Sara Morais
    • Sound: Pedro Magalhães

    • Video edited by: Ricardo Jacinto
    • Camera by: David Jacinto and Vasco Viana
    • Recorded and mixed by: Pedro Magalhães at Golden Poney Studios, Lisboa.
    • Mastering by: Rodrigo Pinheiro

    Soundtrack recorded live at Fundição de Oeiras, 2010
    Special thanks to the Synchronized Swimming Team of CNA, Amadora.
    All images are taken from Ricardo Jacinto’s film “O Corredor”


NUNO TORRES_ alto sax
RICARDO JACINTO_cello
TRAVASSOS_electronics, circuit bending and amplified objects
NUNO MORÃO_percussion and amplified objects