TENDA | ANTENA
por Pedro Tropa e Diogo Saldanha

“Propõe-se a construção e experimentação de dois dispositivos de captação de sinais lumínicos e sonoros exteriores e inerentes ao nosso planeta.

1.Tenda – câmara fotográfica, baseada no modelo do astrónomo Johannes Kepler –inserido no projeto de investigação em desenvolvimento (*).
Construção, instalação, observação, exposição e revelação de superfícies fotossensibilizadas.
2.Antena – captação de sonoridades através de uma antena sensível a baixas frequências; captação das sonoridades naturais das paisagens em torno da residência. Edição e modulação electrónica dos sons e construção de uma peça sonora. Emissão rádio para as estrelas.

(*) O presente projecto de investigação comporta o desenho e a construção de um dispositivo óptico e fotográfico permitindo ver e imprimir os astros do céu (à noite). Este dispositivo inspira-se na câmara-tenda ou camera obscura do astrónomo Johannes Kepler. Relativamente ao “estado da arte”, podemos afirmar que não se conhecem antecedentes artísticos com o intuito de explorar esse invento de Kepler na perspectiva de contemplar ou registar o céu à noite. Mesmo as hipóteses do seu uso científico, por Kepler, são hesitantes: terá ele tentado ver o Universo projectado nas duas dimensões do papel? Ter-se-á servido para desenhar os astros e assim representar a carta dos céus? Seja como for, não dispondo à época (inícios do século XVII) da descoberta da fotografia, Kepler jamais poderia ter desenhado todas as estrelas brilhantes, privado de mãos suficientes para compensar o movimento rotativo da Terra. Daí a novidade em que assenta o nosso projecto, com duas componentes: construir o dispositivo-tenda dotando-o da dupla função de impressão de luz (camera obscura) e de revelação fotográfica (câmara escura). O maior problema a enfrentar consiste precisamente na articulação entre estas funções no interior da tenda, sendo necessário conceber uma estrutura material relativamente ágil, suficientemente estanque e relativamente ampla. Ágil para permitir a sua vocação ambulante e de fácil instalação ao ar livre, estanque para cumprir o seu desígnio de câmara de impressão e de revelação, ampla para possibilitar a permanência de (pelo menos) dois observadores de cada vez. O grupo de investigadores, reunido em torno do Investigador Responsável, visa dar resposta às múltiplas vertentes técnico-científicas que um tal projecto artístico requer: a vertente óptica, a química e a de design de equipamento. Num mundo saturado de imagens, como é o nosso actualmente, num mundo em que paradoxalmente nunca houve tanta ignorância técnica e fenomenológica sobre a realidade de uma “imagem” (digna deste nome), o resultado principal a que almejamos é o seguinte: tornar de novo habitável a gestação da imagem, testemunhando a latência cósmica da luz emitida pelos astros (tempo ancestral) e a latência química da revelação fotográfica (tempo dito
“presente”). Nesse encontro entre latências, o observador poderá reencontrar o tempo da imagem — o tempo que qualquer imagem, afinal, nos solicita.

Data: 19 a 22 de Abril, apresentação do trabalho desenvolvido a 30 de Abril
Local: OSSO
Produção: OSSO e ESAD.CR


As residências artísticas para estudantes do Mestrado em Artes do Som e da Imagem, da ESAD.CR, pretendem ser uma forma de estimular o desenvolvimento de projectos nas áreas do som e da imagem, pelos alunos que frequentam este curso em colaboração com artistas convidados, e são uma proposta conjunta deste mestrado em particular, e da OSSO Associação Cultural, desenvolvidas no contexto da programação das suas residências artísticas.

As residências, indo ao encontro dos objectivos do mestrado, visam proporcionar o contacto directo com artistas, fornecendo um plano comum para o desenvolvimento de trabalho autoral, no qual se interceptam espaço pedagógico e espaço de criação, a partir dos resultados decorrentes do encontro com o território envolvente da OSSO. A singularidade do território e da paisagem, das comunidades e pessoas da região, funcionarão como estímulos à investigação e criação artísticas dos alunos do mestrado e dos artistas residentes, ao mesmo tempo que se pretende que as práticas e obras daqui decorrentes funcionem como registos não só de preservação desse património, mas também de interrogação e crítica dos modos de vida, experiências e territórios locais.
Serão realizadas três residências artísticas, cada uma com duração de cinco dias, nas instalações da Associação Cultural OSSO, na aldeia de S. Gregório, concelho de Caldas da Rainha, em Abril e Maio de 2022, envolvendo os estudantes do mestrado em Artes do Som e da Imagem, professores, artistas convidados e os intervenientes da comunidade local. O objetivo é duplo: aliar a promoção da riqueza cultural, paisagística e etnográfica da região ao desenvolvimento de novos olhares estéticos e novas formas de expressão em contexto académico, segundo três regimes distintos de abordagem: o cinema documental, a fotografia e as artes sonoras.

Alunos, artistas convidados e professores serão todos residentes, e a relação entre estes últimos e os alunos far-se-á através da investigação e prática artísticas que cada um deles, e todos em conjunto, encetarem a partir do mesmo desafio comum, o de criarem projectos audio-visuais que nascem do contexto em que são realizados – o contexto do território envolvente da Osso, nas suas dimensões culturais, geográficas, afectivas, sociais e políticas -, de modo a promover a partilha e discussão de motivos, questões e interesses comuns transversais aos vários projectos que irão ser desenvolvidos. Daqui decorre um espaço de experimentação, discussão e análise alargado das decisões dos alunos-criadores, enquadrado num espaço mais abrangente de partilha e auscultação das tendências actuais das formas artísticas audio-visuais. Este espaço constitui-se como espaço pedagógico inovador e alternativo, não formal, já que surge da reunião dos estudantes com os artistas, em torno de um momento de criação comum, e que é indissociável do próprio exercício da prática e investigação artísticas, em que os alunos convivem e são inspirados pelos métodos e processos de trabalho dos artistas, não no sentido de os usarem como modelos, mas de serem incentivados e confirmados na exploração das suas próprias vias e estratégias criativas, as que mais convêm ao seu próprio trabalho em desenvolvimento.

Residentes – 16 alunos do mestrado divididos em três grupos, cada grupo ficando associado a uma das residências – Artes Sonoras, Fotografia, Cinema e Vídeo (documental)
Convidados: Luísa Homem, Nuno Mourão, Pedro Tropa.
Docentes: Susana Duarte, Diogo Saldanha e Ricardo Jacinto (Mestrado em Artes do Som e da Imagem, da ESAD.CR)